Artigo

Diálogo Interno sobre o sentido da vida

por Graziela Merlina*

“Em Busca de Sentido”, obra de Viktor E. Frankl. Fiz a leitura desse livro pela primeira vez (sim, eu li muitas outras vezes) no ano 2000. Ano em que decidi por uma das grandes transições de minha vida. Ele me ajudou a colocar em palavras muito do que me inquietava, muito do que eu sentia sem saber explicar ou nomear.

Sua experiência como sobrevivente do campo de concentração e tudo que escolheu fazer a partir daí, me inspiraram e encorajam a viver a morte daquilo que já estava consolidado em minha carreira para responder a uma grande indagação da vida naquele meu momento: “Você está a serviço do seu sucesso pessoal ou a serviço de usar seus talentos para o mundo?”

Passados 22 anos, deparo com uma nova publicação em seu nome. Um livro chamado “Sobre o sentido da vida”, uma reedição de sua publicação de 1946 que resume três conferências que ele mesmo ministrou naquele ano em Viena. Curiosidade a flor da pela, vamos lá ler o livro.

Conferência I o sentido e o valor da vida I. Ao ler o título, logo pensei: “Ah! Aqui deve ser sobre tudo o que já li dele” (só que não). Nas primeiras páginas me deparo com algo que me remete aos dias atuais, e que subitamente me fez entender o poder da indignação e da descrença. Algo que, otimista como sou, não tenho muito me permitido sentir. Compreendi que há um ativismo impulsionado pelo ceticismo e isso deu sentido e valor a tantos encontros “estranhos” que tenho tido ultimamente. Assim, me conectei mais uma vez ao chamado de não abandonar a luta.


“.... no passado, o ativismo estava associado ao otimismo, ao passo que, atualmente, ele tem como condição um certo pessimismo. Pois, hoje, todo o impulso para a ação vem da convicção de que não há nenhum progresso em que se possa confiar cegamente..

... é exclusivamente a partir de uma atitude cética que ainda somos capazes de entrar em ação; ao passo que o antigo otimismo só nos iludia, induzindo-nos assim a um fatalismo, ainda que cor-de-rosa. É melhor um ativismo sóbrio do que esse fatalismo cor-de-rosa!...”

Conferência II - o sentido e o valor da vida II. Iniciei a leitura dessa segunda conferência de forma menos arrogante – esperava encontrar algo diferente do que já sabia ou já havia lido nas obras de V. Frankl. Achando que a lição estava aprendida, me deparo com a seguinte frase no início do capítulo “Se a vida tem um sentido, também o sofrimento deve ter um sentido.” Logo fiquei arrogante de novo, achando que já tinha entendido tudo ao que ele se referia (só que não - parte II).

A provocação aqui foi
o quanto é estúpido comparar tamanhos de sofrimento, pois cada ser humano individual tem seu próprio tamanho de sofrimento. E ao compara-lo e concluir ser inferior ao de outro, pode-se cair no engano de não sofrer como deveria. O que importa quando se fala em medir sofrimento, é a compreensão de qual o seu sentido para cada humano individual. E isso sim faz diferença.

“... é a diferença entre sofrimento sem sentido e com sentido.”

Conferência III – experimentum crucis. Nesse capítulo me deparei com a reflexão do poder interior e da liberdade humana. E de um jeito muito simples, V. Frankl conclui que o que nos resta é agir no cotidiano. Não é sobre o que foi e nem sobre o que será. É sobre o que é, aqui e agora. O que escolho fazer agora tem o poder de impactar o que será história e legado, e que, portanto, merece ser feito com responsabilidade e consciência.

“Até onde temos responsabilidade pelos acontecimentos, até onde eles são “história”, essa nossa responsabilidade é escandalosamente afetada pelo fato de que nada que aconteceu permite ser “eliminado do mundo” ..

... Terrível é saber que, em cada momento, tenho responsabilidade pelo próximo; e toda decisão, a menor ou maior, é uma decisão “por toda a eternidade”; que a cada momento realizo ou perco a oportunidade, a oportunidade daquele momento.”

E entender esse aqui e agora, foi crucial para V. Frankl que acreditou que nada poderia ser pior do que o vivido no campo de concentração, mas que assim desabafa com seus amigos quando da sua libertação:

No campo de concentração acreditava-se já ter chegado ao ponto mais profundo da vida - e então, quando se retornou, foi preciso ver que tudo não valeu a pena, que aquilo que alguém apoiou foi destruído, que no momento que se voltou a se tornar ser humano, pode-se afundar ainda mais, num sofrimento ainda mais sem chão.”

Ficou claro então pra mim, porque inúmeras vezes em suas conferências ele reforça que o sentido da vida é próprio de cada humano individual, assim como de cada momento de vida e de mundo. Não é algo a que se responde uma única vez na vida, mas sim algo que a vida nos questiona, nos indaga por repetidas vezes.

Bora buscar por sentido mais uma vez!

* Observação: as conferências vão muito além do que trago aqui. Me permiti dar luz ao que me tocou, ou melhor, ao que me ajudou mais uma vez a colocar em palavras algumas das minhas inquietações.

*Graziela Merlina - Diretora de Educação do Capitalismo Consciente Brasil | Idealizadora do HUB Consultores Conscientes @CasaMerlina | Co-Fundadora do Instituto Emana | Gamer Designer | Palestrante | Mentora & Investidora de Negócios de Impacto.