Artigo

Em qual ano foi escrito?

por Graziela Merlina*


Estamos vivendo na era da mudança, da transformação, onde todas as verdades se tornam questionáveis. Perguntamos com mais frequência porque e como seguir determinada carreira, o que fazer com o nosso tempo livre, como estar sempre atualizado, como aliar realização profissional à realização pessoal.

Com certeza, cada indivíduo tem as suas próprias respostas, mas como encontrá-las?

Buscar respostas é uma atividade que exige autoanálise e reconhecimento das próprias habilidades, desejos, deficiências, exigências, etc. Para tanto, o segredo está em dedicar-se a ouvir o Eu. Em nossas vidas, tantas coisas ajudam a nos despersonalizar que nossa essência vai se perdendo e, sem saber quem somos, estamos sendo aquilo que os outros esperam de nós.

Existem diversas formas de exercitar o autoconhecimento. Alguns preferem o uso de terapias profissionais ou alternativas; outros encontram melhores resultados na prática da meditação ou relaxamento; outros escolhem atividades físicas ou viagens; e existem também programas de treinamento que enfocam este questionamento. O importante é o olhar atento a isso. Não existem regras, e você pode até descobrir que escrever, desenhar ou ler provocam descobertas maravilhosas.

As descobertas são muitas, e podem significar grandes mudanças. Você pode querer mudar de carreira, país, construir uma família ou descobrir que está no caminha certo, mas precisa de aprimoramento. Se algum destes for o seu caso, nada melhor do que tomar cuidado com as armadilhas que o fazem permanecer na sua zona de conforto. Atenção a elas:

  1. A culpa. No momento em que se decide por uma mudança nos abrimos imensamente à criatividade, mas também nos abrimos à insegurança e dúvidas. Acabamos por nos culpar pelas certezas abandonadas, ou até mesmo, projetamos a culpa em nossos amigos, parentes, colegas. Neste momento, é importante ter em mente que tudo será no mínimo um aprendizado maravilhoso. E que a nossa vida não é o que acontece com ela, mas sim a narrativa que damos aquilo que acontece com ela. Que viver no remorso poderá lhe impedir de rever suas próprias crenças.

  2. A referência. Algumas decisões, atitudes ou desejos do passado podem se ver abandonados em função dos novos objetivos. Abandonar a referência do passado, aquilo que nos impulsionou até o presente momento também é uma tarefa difícil e requer atenção. O passado é ferramenta de crescimento, aprendizado, experiência, mas esteja alerta para não viver do passado.

  3. A expectativa. O mundo depende de interações, portanto as coisas não serão sempre do jeito que você imagina, mas sim do jeito que as interações permitem. Use a sua energia para desempenhar o melhor papel em cada nova interação. Entender isso permite que se substitua a força das expectativas pela força de viver o instante simplesmente porque ele é seu. Viver cada acontecimento como único permite aprender com ele, ao invés de permitir a insatisfação por não ter sido do jeito que queria.

  4. O tempo. Dedique tempo a você. Procure sempre o equilíbrio físico, emocional e mental. Cuide da sua saúde e da sua família. Tenha projetos pessoais e sociais. O estado de alerta deve entrar em ação quando você estiver realizando algo sem saber porque ou com que objetivo. Presenteie-se com o tempo do questionamento e do silêncio.

  5. O conhecimento. Conhecimento e desenvolvimento pessoal serão sempre de extrema importância. Recicle sempre o seu conhecimento. Use os meios de comunicação, cursos, treinamentos, troca de informações, grupos de estudo. Procure identificar suas habilidades e aquilo que a cada momento é importante aprimorar. Dedique-se ao que escolher aprofundar e se permita aprender com a sua rede de contatos.

Para dar o primeiro passo, basta lembrar que é necessário ter muita força para extrair o melhor de cada dia, mas é necessário ter muita coragem para fazer cada dia melhor.

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Esse texto foi escrito em 2001, ano em que fiz minha transição de carreira. Deparei com ele nestes dias. Senti muita emoção ao lembrar toda a trajetória até aqui e o que significou pra mim essa decisão de virada.

Tirando o fator pessoal da história. Considerando todos os movimentos tecnológicos, econômicos, políticos e sociais que temos vivido; esse texto poderia ter sido escrito em 2019? As questões humanas, a importância do autoconhecimento, a vulnerabilidade, a busca por equilíbrio ainda permanecem presentes e prioritárias na sociedade? Demos atenção a esse assunto desde então, ou fizemos as doenças emocionais só aumentarem?

Essas armadilhas ainda fazem sentido? O que você mudaria? O que acrescentaria?

Qual o seu ponto de vista: Somos as pessoas que fomos destinadas a ser? Ou permanecemos sendo as pessoas que fomos condicionadas a ser?

Ficam aqui as perguntas para que você possa dedicar um tempo a refletir sobre suas próprias armadilhas hoje, em 2019, e se elas tem insistindo permanecer em sua vida como um padrão.

*Graziela Merlina - Idealizadora na @casamerlina / Conselheira no @capitalismoconscientebrasil / Fundadora da @ApoenaRH