Artigo
Os três caminhos de manifestação do Papel Social
por Graziela Merlina*
Tenho deparado com algumas situações cotidianas que me fizeram refletir sobre os caminhos de manifestação do Papel Social que estão em nossas mãos todos os dias.
Vou começar com um exemplo: São quase 8 horas da manhã e você está caminhando da sua casa para seu local de trabalho. Passa por uma das principais ruas do bairro e a calçada está tomada por jovens adultos que aparentemente esperam o momento de embarcar para algum passeio, viagem, retiro, congresso ou qualquer outro deslocamento que justifique os três ônibus que estavam se aproximando e estacionando por ali.
Eles estão eufóricos, falantes, agitados, e aparentemente felizes com o que estar por vir. Você também fica feliz por eles. Mas, você é o pedestre e precisa da calçada para seguir seu caminho. Não há espaço pra você. Todos que passaram por eles antes de você, decidiram por descer para a rua, desviar deles e caminhar junto aos carros em movimento. Parece que é o que há pra se fazer. E você está chegando cada vez mais perto, e precisa tomar uma decisão.
Sua consciência começa um diálogo interno com você mesmo. E num breve momento, você percebe que precisa fazer uma escolha. Qual seria a sua? Responda a si mesmo. Pense em outras situações semelhantes. Como você agiu?
Qual é o seu “IN” Social?
Você age com INDIFERENÇA. Prevalece a sua voz interna que diz: “Sei que não é certo correr o risco de andar junto aos carros em movimento sendo um pedestre. Sem falar que não é um ato de cidadania ocupar toda a calçada e esquecer dos transeuntes. Mas, não tem jeito. Jovens são assim mesmo. Brasileiros são assim mesmo. Sigo em frente. Faço o meu desvio. Afinal, isso é normal. E se eu fizer ou disser alguma coisa ainda corro o risco de ser vaiado. Estou a serviço da minha tranquilidade.”
Você age com INDIGNAÇÃO. “Isso é errado e injusto. Tenho que mostrar que são mal-educados e não pensam nos outros. Não posso suportar isso. Ninguém percebe que estão atrapalhando? Vou tirar uma foto e postar em todas as redes sociais. Vou faze-los passar vergonha. Vou mostrar como esse país e essa geração estão perdidos. Estou a serviço de espalhar a minha raiva.”
Você age com INFLUÊNCIA. “Não posso saber se eles estão ou não conscientes da falta de cidadania que estão praticando. Mas, não posso me omitir em mostrar isso a eles. Se eu andar na rua junto aos carros, serei conivente com essa atitude. Vou seguir o meu caminho de pedestre – pela calçada. Paro em frente ao grupo quando não der mais para passar. Minha presença irá incomodar em algum momento. A atitude estará na mão deles. Posso influenciar um estado de consciência. Estou a serviço do amadurecimento social.”
Bom, essa é uma história real. Aconteceu comigo. Qual foi a minha escolha? Basta dizer que em alguns segundos ouvi algumas vozes no grupo dizendo:
“Gente, vamos ficar perto do muro. Estamos atrapalhando a passagem”.
“Fulano, a senhora quer passar. Dá licença.”
“Pessoal, se fizermos uma fila ficará mais fácil embarcar no ônibus”.
E assim se confirmou a minha crença no potencial humano, e na nossa capacidade de transformação através do encontro com o outro.
Claro que não faço essa escolha todos os dias. Há muito de INDIFERENÇA e INDIGNAÇÃO no meu agir. Muito mesmo. Por isso, preciso de esforço e autovigilância. Pois somente ao escolher INFLUÊNCIA é que exerço meu papel social no máximo de sua expressão. Uma sociedade que busca por mais igualdade, colaboração, empatia, ética e sustentabilidade é potencializada pela coragem de exercer INFLUÊNCIA SOCIAL.
“A chamada influência social consiste na ação de fazer com que uma pessoa ou um grupo aja ou pense de um modo diferente do habitual, seguindo atitudes que eram desconhecidas ou desconsideradas pelas pessoas que foram influenciadas.” Fonte: Significados
E pra encerrar esse mesmo dia com maestria, levo o meu filho a uma consulta e a médica estava com o pé recém operado. Pergunto o que aconteceu e ela me diz: “Eu estava andando na rua. Fui desviar de um grupo de pessoas que estavam bebendo em frente a um bar ocupando toda a calçada. Ao descer da calçada para a rua, torci o pé, cai e fraturei o osso. Tive que operar.”
Para essa cidadã, a INDIFERENÇA e a INDIGNAÇÃO não foram suficientes...
*Graziela Merlina - Idealizadora na @casamerlina / Conselheira no @capitalismoconscientebrasil / Fundadora da @ApoenaRH