Artigo

Pergunto, logo você existe!

por Graziela Merlina*


A arte de fazer perguntas tem sido um tema relevante no mundo corporativo nos últimos anos, principalmente com o crescimento do uso do Coaching e dos princípios da Comunicação Não Violenta. Parece que despertamos para a clareza de que perguntar e refletir abre muito mais possibilidades do que simplesmente afirmar e concluir.

Perguntar demonstra interesse, amplia a consciência sobre o que está sendo dito e como está sendo entendido, estimula a criatividade e transforma certezas em possibilidades. E parece ter sido uma arte facilmente assimilada no mundo organizacional. Afinal, ela exige atenção e cuidado, mas ao mesmo tempo, é facilmente aprendida.

Qual é ponto aqui então? Uma observação sobre o que tenho visto e percebido nas minhas andanças por tantas e diferentes empresas. Fazer perguntas também é um ato de humanização. Fazer perguntas com o coração é muito diferente de fazer perguntas capciosas. Aquela pergunta que não está na busca de uma conversa preciosa, mas sim na busca de enganar, induzir a conversa ou as conclusões. Pergunta maliciosa que busca confundir o outro, colocar em cheque um conhecimento.

Perguntar de forma capciosa é quando você apenas busca que o outro responda ou confirme a resposta que você quer ouvir. Não há um interesse legítimo sobre o que o outro pensa e sente. Não adianta nos iludirmos – ao sermos questionados sabemos nitidamente se há uma boa ou má intenção naquela pergunta.

Caros líderes, executivos, profissionais, se há algo a lhes pedir aqui é fazer o uso consciente da arte de perguntar. Não fazemos perguntas para construir armadilhas. Fazemos perguntas para construir possibilidades. E há muita diferença entre essas duas coisas. Lembrem-se que o mundo é paradoxal, e que portanto as pessoas também são. Questionar ajuda a decifrar e resolver paradoxos e não simplesmente apontar as inconsistências.

Te deixei pensativo? Segue aqui alguns exemplos do que ouvi em algumas situações profissionais:

Numa conversa de planejamento do ano: “O que eu preciso fazer para ter a mesma fartura de headcount que a outra área?”

Numa conversa entre pares de uma equipe: “Você ainda tem aquele problema com mudanças em cima da hora?”

Numa conversa entre líder e liderado: “Você parou de chegar atrasado porque comprou um carro?”

Percebem que em qualquer uma dessas situações, o respondente está em um dilema. No primeiro caso, se o questionado responder com ideias e sugestões, ele estará concordando que há uma outra área dentro da empresa com fartura de headcount.

No segundo caso, responder sim ou não, fará o respondente concordar que ele tem um problema com mudanças em cima da hora. Cabe a ele muita maturidade para não entrar na armadilha da pergunta. Até porque a palavra “problema” nessa frase pode significar muita coisa.

No terceiro caso, há um outro exemplo de armadilha. Essa foi a resposta que eu ouvi nessa situação: “Não. Foi porque você parou de marcar as reuniões antes do horário formal de início do trabalho.”

Penso que fica claro quantos “não ditos” existem nessa relação, não é!?

Imagina como as perguntas certas poderiam ajudar...

Ah! Antes que você me questione, vou responder: “Sim, são todos exemplos reais.”

O que você me diz sobre a sua arte de fazer perguntas?

*Graziela Merlina - Idealizadora na @casamerlina / Conselheira no @capitalismoconscientebrasil / Fundadora da @ApoenaRH